quinta-feira, 30 de junho de 2011

Carta aos meus inimigos


Remetente: Ellen Barbosa Carneiro Paes
Ao endereço: Avenida Recalque da Silva, Condomínio da Inveja Dolorosa, 666.
A/C: Queridos e fiéis desafetos


A tentar, a tentar estás.
A falar mal permaneces.
Não cansas?
Estás magoado*
Mas... Ainda?
Com o que?
Eu?
Eu existo...
Sei que é difícil esqueceres,
mas me difamando,
talvez consigas convencer algumas cabeças fracas
da mentira que inventou
que só um tolo não percebe:
são para convencer-te a ti mesmo
de que foi melhor mesmo eu ter me afastado.
Afinal, Oh, como sou má!
“I’ll be your mirror?”

Eu?
Só me lembro de ti quando alguém toca no assunto.
O que de fato me ocorre neste momento.
Penso...
Se continuares me supervalorizando assim
Vou começar a acreditar
que sou realmente tanto quanto dizem
e deixar de falsa modéstia.
Começarei,
a partir de agora,
a cultivar o ibope que continuas a me dar
mesmo eu a te ignorar.

Não sei bem o que me move a escrever essas poucas palavras infames.
Em vão,
eu bem sei.
Preocupo-me ainda
até com o que e quem não deveria.

Considere este momento como...
Um vômito.
Aquele que regurgita
a bebida vagabunda que bebi enquanto tive a ti como suposto amigo.
Escrever, como já é sabido,
é também o meu descarrego cerebral.
Talvez eu divulgue isso.
Talvez não.
Mas cá estou.
A gastar meu tempo com essa inutilidade.
...

Achei que já estivesses feliz.
Animei-me com essa possibilidade.
Assim, poderia deixar de espalhar intrigas sem razão de ser.
Oh, que infortúnio é sua vida!
Não é mesmo?
Não tiveras a mesma sorte de uma família feliz.
Faltou-te apoio dos que deveriam ter te amado.
Não foi?
Quantas vezes reclamastes disso!

Parece que tens uma placa a brilhar
“Sou um perdedor!”
Agrada-te vestir esta pele?

Essas mentiras...
Elas ao menos te convencem?
Se te fazem sentir melhor,
entendo.
Ensino-te minha estratégia:
sempre preferi o silêncio.
Certos despautérios merecem ser respondidos
com um longo e barulhento silêncio.
Eles incomodam mais que as pedras que gasta teu tempo a atirar em mim.

Eu?
Não preciso reagir da mesma forma.
Está óbvio que o que tens
É dor de cotovelo
Crônica.

E ainda assim,
ainda assim
com tanto esforço!
Tens raiva não é?
Alguém ainda não se convenceu!
Oh! Que desgraça!

Tenta.
Tenta...
Tenta!

Pior!
Essa pessoa me ama?
Ela me defende?
E agora, José?

Tenta.
Tenta...
Tenta!

Mas hoje,
rompo este longo silêncio
e depois dele,
me calo mais uma vez.
Deixarei-te livre
pra que escolhas mais uma vez
Continuar ou não com o que começaste.
Sua insistência em maldizer-me.

O triste é perceber
que continuas afundar no mesmo buraco
que começaste cavando lá atrás.
Lembra?
Lembra sim.
Lembra sempre antes de dormir.
Aliás,
deves ter insônia ainda...
Se bem conheço.

Mas ser vítima ainda é mais confortável.
Então, assim eu deixo.
Demora mesmo p’ra se aprender
que tudo é uma questão de escolha.
E eu também fiz as minhas.
Algumas boas,
outras más.
Paciência.

Quero-te muito bem, saiba.
Torço que um dia tenhas a mesma,
ou ainda,
mais que a minha sorte!
Para que possas parar de reclamar as perdas.

Que tenhas a mesma sorte
Dos amores que cativo,
das boas energias que aproximo.
Das verdades da minha vida.
Que só eu sei.
Das mentiras que cedo ou tarde
eu desmascaro dentro de mim.
Mentiras sinceras que todo ser humano cultiva
Mas que, ressalto: só a mim interessam.
Desmascaro-as p’ra que eu continue caminhando em paz.

Também te desejo
Um pouco das vitórias que conquisto.
Sinto-me mal às vezes por ter tanto.
Mereço?
Devo ter merecido em algum momento.

Mas você também.
Não se preocupe tanto comigo.
Das perdas e dos erros
só desejo a regeneração e o fortalecimento.

Eu não desejo o mesmo que me desejas,
querido inimigo que vestiu a carapuça.
Eu desejo que consigas um dia ser realmente feliz.
E mais que isso.
Que consigas finalmente entender
que um dia se perde,
no outro se ganha.
Portanto,
não se incomode tanto comigo

simplis assim.


Escritora: Adelle Marytah


 


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